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A pluralidade das culturas alimentares indígenas no Ceará

Dia dos Povos Indígenas, em 19 de abril, é uma data dedicada a celebrar a cultura e a herança indígena em todo o continente. A mudança do nome da celebração que era “Dia do Índio” tem o objetivo de explicitar a diversidade das culturas dos povos originários. 

Só no Ceará, a população indígena é estimada em cerca 36 mil pessoas, formada por 15 povos indígenas, que habitam 20 municípios cearenses, distribuídos em várias regiões do estado, nos domínios de serras, sertões e zona costeira, conforme Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará – FEPOINCE.

Cada território indígena apresenta características socioculturais e territoriais particulares, evidenciando uma cultura alimentar, que é consequência da agricultura, da coleta e da caça, do acesso à água, dos saberes e ofícios tradicionais, das práticas de preservação do patrimônio alimentar e das memórias sociais, entre tantos outros fatores. 

Entre os Tremembé da Barra do Mundaú, território com mar e mangue, a cultura alimentar é representada pelo murici, óleo de batiputá, mocororó e pescados, que fazem parte do cotidiano e das memórias das famílias Tremembé. Além da grande riqueza dos produtos feitos à base de mandioca, como farinha, goma, carimã, puba, que são feitos na Casa de Farinha, proporcionando encontros e festas importantes para o fortalecimento de laços identitários. Para os Tremembé da Barra do Mundaú, o alimento representa a conexão com o sagrado que vem da “mãe terra” e da identidade cultural indígena, confirme Mateus Tremembé, liderança indígena.

Já no povo Kanindé, que está na região serrana da Aratuba, é a agricultura familiar a partir do plantio de milho, feijão e fava que marcam as práticas alimentares, proporcionando receitas como pão de milho, mexido de fava, canjica doce e canjica salgada, xerém papo e xerém seco, pamonha doce e pamonha salgada, bolo de milho na palha, angú, fubá de milho e as bebidas aluá de milho e gororó, feita com rapadura, coco raspado, caldo de feijão e espigas de milho. Para comemorar a colheita do milho, usado em diversas receitas, celebra-se a Festa do Muncunzá, evento organizado por crianças, jovens, adultos e “troncos velhos”, fortalecendo a tradição e a manutenção dessas preparações na alimentação entre os Kanindé.

Os povos indígenas se diferenciam nas particularidades de cada território, mas se assemelham na relação orgânica e respeitosa com a natureza, fruto da experiência com os saberes do plantio, da colheita, da caça, da pesca, do preparo e dos rituais, que reverberam no respeito pela sabedoria adquirida pelos “troncos velhos”, pelos rituais de celebração de elementos da natureza, pela luta incansável de direito à terra.

É fato que a cultura alimentar cearense se desenvolve com muitas características dos povos indígenas, que sempre estiveram por todo o Ceará, permitindo que se criasse o gosto (que é uma construção social) por tapioca, farinha de mandioca, bolo de milho, canjica, pamonha, que são preparações saudáveis, sem produtos ultraprocessados e que contam histórias afetuosas do povo cearense.

Texto: Vanessa Moreira, antropóloga, coordenadora de cultura alimentar da EGSIDB

Confira registros de uma breve vivência durante a 2ª edição do Laboratório de Criação, em 2019, com o povoTremembé da Barra de Mundaú:

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Fotos: Izakeline Ribeiro

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