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Cozinha afetiva: alunos da Escola de Gastronomia Social compartilham pratos com valor cultural e sentimental 

Momento faz parte do módulo de Cultura Alimentar Cearense dos cursos profissionalizantes e visa aproximar os alunos da cultura local com alimentos ligados a suas memórias 

Nesta sexta-feira, 6 de setembro, os alunos dos cursos profissionalizantes de Confeitaria e Panificação participaram de uma aula divertida e diferenciada. Eles foram convidados a trazer e apresentar para seus colegas comidas que tivessem um valor sentimental e cultural em suas vidas. Durante um momento coletivo, as turmas se reuniram ao redor de algumas mesas, no espaço de convivência da Escola de Gastronomia Social, e compartilharam os pratos que preparam e o significado por trás da escolha. 

Nas mesas repletas de comidas, das mais variadas, Paula Barros, aluna do curso de panificação, apresentou sua cocada raiz feita apenas com coco ralado manualmente, açúcar e água. Ela conta que aprendeu a receita na casa de familiares do marido, no município da Meruoca, no interior do Ceará. “Essa cocadinha me lembra muitas coisas boas do interior, quando chegamos na casa de uma tia do meu marido, lá sempre tinha muitas comidinhas, incluindo a cocada raiz”, explica. 

Quem também trouxe um prato típico cearense, muito emblemático da cultura farinheira, foi a aluna Julia Teobaldo, da panificação. Ela compartilhou com seus colegas a tapioca de bejú, alimento originário da cultura indigena cearense, muito presente em municípios com forte presença do cultivo da mandioca e das casas de farinha. Para Julia, o prato carrega um valor sentimental incalculável: “Essa tapioca me traz muito a memória das mulheres da Lagoa de Santa Tereza, no Aracati, um pequeno vilarejo onde as mulheres tiram o coco, quebram e da goma que fazem na farinha preparam essa tapioca. O prato tem, para mim, um valor afetivo bastante significativo. Me faz lembrar da infância, da vózinha que tão carinhosamente preparavam esse alimento. Me faz recordar essa ancestralidade que precisa ser constantemente resgatada”, explica. 

A aula Francisca Ednete, da panificação, também homenageou sua ancestralidade trazendo o cuscuz, prato de origem africana muito popular no café da manhã na região nordeste. Ednete explica que o prato não podia ser esquecido devido ao seu forte simbolismo: “É o famoso cuscuz que eu amo, todo mundo ama e não pode faltar na mesa. Combina com coco, uma carninha do sol, o bom e velho ovo, uma salsicha e com aquela buchada”. 

Além dos tradicionais pratos a base de coco, milho e farinha, alunos também trouxeram os mais variados bolos carregados de recordações, como relata a estudante de confeitaria, Darma Muniz com seu bolo de milho enfeitado com palhas verdes e calda de milho e leite na quenga de coco. “Esse bolo significa muito pra mim porque eu nunca tive um bolo de aniversário. Eu morava na roça com minha mãe e não tinha muitas condições de ter um bolo confeitado, então ela (a mãe) fazia como podia, uma vez teve a ideia de pegar as palhas e decorar”, compartilha. 

Guilherme Araújo, aluno de panificação, compartilhou com as turmas um bolo de banana, cravo e canela que aprendeu com a avó. Apesar de ter a receita, Guilherme explica que nunca foi capaz de reproduzir o sabor e a forma única do preparo original da avó. Ele suspeita que ela esconda ingredientes para nunca revelar seu real segredo culinário. Apesar da falta de maestria com o preparo, o que realmente importa para ele é o valor sentimental que a receita carrega: “É meu bolo favorito, a única coisa que faço questão de ter todos os anos no meu aniversário, meu bolo de banana e minha avó”. 

A atividade realizada em conjunto com alunos da confeitaria e da panificação faz parte do módulo “Cultura Alimentar Cearense” que propõe explicar e expandir o entendimento da importância cultural do alimento, do preparo e dos insumos regionais presentes em nossas vidas, essenciais para reconhecer e compreender culturas e valores sociais de diferentes comunidades. O professor Luiz da França, um dos idealizadores do momento especial, explica a importância da dinâmica: “Foi um momento muito rico de conhecimento, de modos de fazer e foi, também, um momento de confraternização que vai fortalecer o conhecimento que estamos tentando construir sobre a cultura alimentar local. 

Confira fotos da atividade:

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