No estado do Ceará, a Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco – EGSIDB, primeira instituição pública de gastronomia social do Brasil, com a missão de pensar e agir para a valorização da cultura alimentar, conceito que tem ganhado repercussão no debate da política cultural, entre as pessoas cozinheiras, pesquisadoras, agricultoras e produtoras de alimentos.
A EGSIDB reconhece a cultura alimentar como uma imprescindível ferramenta de luta pela soberania e segurança alimentar e combate à fome, que extrapola o debate teórico desenvolvido pela Antropologia da Alimentação. Este campo do conhecimento analisa o conjunto das práticas e dos saberes relacionados com a produção-transformação dos alimentos, reconhecidos culturalmente como práticas alimentares de determinado território.
Em um contexto onde a industrialização e a globalização do alimento e o consumo de ultraprocessados cresce juntamente com a fome, faz-se urgente políticas públicas que fortaleçam a agricultura familiar e a sustentabilidade das formas de produção, valorizando o consumo local. Comer e cozinhar são atos políticos, que podem definir escolhas e demandas para uma alimentação saudável, acessível a todas as pessoas e que seja contextualizada culturalmente.
A EGSIDB surge para ser um centro de formação e pesquisa em cultura alimentar e gastronomia social, com metodologias diferenciadas de educação, pesquisa, desenvolvimento e inovação. Com ações de formação, promove impactos socioculturais na cidade e no campo, repercutindo nas trajetórias de vida dos cearenses espalhados pelos diversos territórios que compõem um estado com diferentes biomas e características.
É preciso que alunas e alunos de cursos na área de gastronomia tenham a oportunidade de discutir as cadeias de produção dos alimentos, compreendendo para além das técnicas, a importância das pessoas, dos saberes, dos ofícios e dos insumos, que permitam a construção do nosso repertório alimentar, legado da história da identidade cearense. A Escola colabora com um cenário de profissionais com consciência de uma gastronomia politizada, que percebem o alimento de forma complexa, atentos às particularidades culturais, às questões sociais, à biodiversidade, ao desperdício e ao descarte.
No que se refere à pesquisa, é importante que pequenos produtores, agricultores e povos tradicionais possam ser visibilizados na cadeia de produção do alimento, tendo seus ofícios reconhecidos e potencializados a partir de uma política pública, como o Laboratório de Criação em Cultura Alimentar e Gastronomia da EGSIDB. Este programa é o espaço de pesquisa, desenvolvimento e inovação, que tem o objetivo de criar e qualificar produtos alimentícios e seus processos de produção; desenvolver e aprimorar tecnologias sociais, metodologias e registros que fortaleçam o desenvolvimento local. De forma pioneira no Brasil, vem desenvolvendo pesquisas com a missão de contribuir com demandas que valorizam e utilizam saberes, ofícios e produtos da biodiversidade da cultura alimentar cearense.
O Ceará é um farol, que ilumina um caminho possível para uma sociedade que consegue adiar o fim do mundo, parafraseando Ailton Krenak, a partir do alimento, ferramenta de transformação social, que impacta o indivíduo, a relação com a natureza, o consumo e a permanência das nossas raízes.
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